Neve em Edmonton

A semana passada foi singular. A primeira nevasca da minha vida, uma ida ao supermercado que estava mais para expedição polar e o medo de perder os dedos. Com quase um metro de neve nas ruas e em todos os lugares, foi difícil fazer qualquer coisa. A neve parece ter sido vendida nos últimos séculos como a coisa mais maravilhosa da natureza. Uma coisa pura e livre de sujeira ou maldade. Discordo. Não é pura, é sacana. É uma das forças da natureza mais “foda” que existe. Harsh. Não dá pra sobreviver mais de uma hora sob o frio de -40c. Se estiver com as roupas apropriadas segura uma hora e meia. Perde uma orelha ou duas mas fica com o nariz. Sim, ela é suja. O problema é que não vemos o lixo. Ele vai sendo soterrado aos poucos. Na primavera, junto com as flores e pássaros, as latas, papéis, cigarros, merda e seja lá o que for, surgem quase milagrosamente após o derretimento da neve. Além disso a prefeitura joga areia nas ruas, para aumentar a aderência. Não preciso dizer como as coisas ficam.

O inverno, tenho lido por ai, era uma época muito ruim para as vendas de quase tudo. Era necessário algo que alavancasse a saída de produtos que naturalmente ficavam emperrados nessa época. Ora, era tempo de se abrigar, economizar e fazer compotas. Não havia internet, televisão era coisa de poucos e não haviam inventado as lojas de conveniência ou grandes redes de supermercado. Nem mesmo shoppings. E não é que fizeram o natal vender direitinho? A coca-cola entrou no ritmo, aproveitou o famoso desenho de papai noel de um cartunista chamado Thomas Nast e vendeu pra caralho. Hoje o natal é um inferno. Um frenesi de dar bananas e a venda de plásticos batendo recordes. Eu não entendo como podem fabricar tantas coisas na China. Aqui no Canadá houve casos de arte indígena ser produzida na China. Reclamaram e os nativos disseram que a criação do design é deles, mas a fabricação é na China sim, não há problemas. Ora bolas… Para ser feliz aqui na América do Norte, no inverno, usa-se comprar de tudo. E o que mais vejo na TV e nas revistas é propaganda de remédio anti-depressivo. Que mundo é esse em que vivemos? Que merda é essa que construímos?

Esse ai é o Papai Noel original. Desenhado em 1886 na revista Harper’s Weeklys. Percebam que ele fuma um cachimbinho enigmático. Erva dos hobbits?

E hoje, meus camaradas, só nevou, só nevou. Não comprem essa idéia. Gelar cerveja no quintal é massa? Sim, mas não se compara a esquentar ela debaixo do sol.